A Internet Antiga tinha algo mágico, como se fosse um portal para uma dimensão diferente. Pelo menos era assim que eu me sentia quando era mais nova.
Sempre foi do meu interesse criar um museu com as coisas que marcaram a Web nos anos 2000. Vem comigo viajar para essa época!
Para começar, você não podia usar a Internet todos os dias. Era um ritual custoso, que só podia ser feito durante os finais de semana, (ou de madrugada, para os aventureiros) quando o pulso era mais barato. O quê? Você não sabe o que é pulso? Era como o uso de Internet era cobrado numa conexão discada. E em falar em conexão discada...
Estes sons estranhos eram a forma que a rede tinha de nos dizer "Olá". Difícil não se recordar dos tantos de discadores que existiam, cada um prometendo ser mais rápido que seus concorrentes, mas a verdade era que estávamos limitados a 56 kilobits por segundo na melhor das hipóteses.
E pra onde ir depois disso?
Um grande buscador da Internet brasileira era o Cadê?, que serviu por muito tempo como pontapé inicial para muita gente na rede. É notável lembrar que, por anos, o Cadê catalogava todos os endereços manualmente, através de seres humanos que verificavam cada website, diferente de concorrentes como o Altavista que indexavam automaticamente.
Apesar do Google já existir nessa época, eram os portais que dominavam. UOL, iBest, Terra, iG, POP... Alguns destes sobrevivem até hoje, mas não estão nem perto da importância que tinham ao brasileiro que acessava à Internet antigamente. Hoje, eles são essencialmente sites de (des)notícias, mas antes, serviam muito bem como portais Web, fornecendo serviços de e-mail, jogos, entretenimento, conversação, blog pessoal e tantas outras coisas.
A necessidade de se comunicar era latente, e só os e-mails não dariam conta por muito tempo. Não demorou, quando nos demos conta, já estávamos fofocando em mensageiros instantâneos e nas primeiras redes sociais.
Mas e depois de sair dos portais, buscadores e redes sociais? Para onde íamos? Tínhamos uma gama de sites bem interessantes, que geralmente a gente descobria através do boca a boca. Uma pessoa te falava sobre um site, você ficava curiosa a semana toda para acessar no fim de semana. Alguns eram clássicos, todo mundo acessava pelo menos uma vez.
Os sites de jogos em Flash eram parada obrigatória para qualquer criança com acesso à Internet naquela época. Tudo que a gente queria era passar horas numa página de games on-line. Aguardávamos uma eternidade para carregar, mas a espera sempre valia a pena.
Para ser divertido, nem sempre um ambiente virtual precisava ter um objetivo específico. Os jogos sociais online multijogador em massa fizeram muito sucesso durante os anos 2000. Como não se lembrar da vez que o Pânico na TV foi banido da festa virtual da Globo no Second Life?
Teve uma época que a moda eram os simuladores de fazenda e similares que costumavam ser acessados pelas redes sociais como Orkut ou Facebook.
Talvez o gênero de jogo de maior sucesso dessa época — o MMORPG — esteja nichado hoje, mas naquele tempo, era muito comum ver pessoas jogando os mais variados títulos dentro das LAN houses. Por falar nelas, o que aconteceu com esses lugares? Mal se encontra uma hoje. E pensar que o McDonald's tinha um espaço reservado em seus restaurantes só para acessar à rede.
Mas voltando a falar de MMORPG, não tive a oportunidade de jogar a maioria dos que estão nesta lista. Muitos destes jogos tiveram seus servidores oficiais fechados. Felizmente, alguns sobrevivem até hoje por conta da iniciativa de fãs em criar servidores privados.
Já deve ter percebido a essa altura a importância dos jogos na Internet Antiga. Além dos MMORPGs, havia muitos outros gêneros on-line para se jogar.
Mas nem sempre dava para ficar conectado à Internet. Algumas editoras vendiam CD-ROMs com centenas, às vezes milhares de jogos dentro. O próprio McDonald's, que já foi citado, já distribuiu discos no McLanche Feliz.
Outra empresa que costumava entregar CD-ROMs nas escolas era a Level Up! Games, responsável por alguns jogos que você já viu neste shrine como Ragnarök, Perfect World, Grand Chase, dentre outros. A LUG foi por muitos anos referência na distribuição de games on-line no Brasil.
E quanto aos programas que usávamos? Como fazíamos para baixar música ilegal? Antes do torrent ser usado como hoje, tínhamos os programas de compartilhamento de arquivo peer-to-peer, os controversos clientes P2P. Serviam principalmente para baixar música, mas tinha quem se arriscasse em baixar vídeos, softwares e até jogos, mas no geral, a sua chance de acabar baixando um trojan era bem alta.
Com isso, você chegou ao fim desta viagem à Internet Antiga. Como você se sentiu? Consegui te deixar nostálgico? Desbloqueei alguma lembrança? Do que mais você sente falta dessa época? Se lembrou de alguma coisa que eu não contei aqui? Conta para mim no Livro de visitas! Eu leio todos os recados.
